Há alguns dias uma pessoa me pediu perdão. Foi alguém que me causou
mal meses atrás ao fazer afirmações a meu respeito que foram muito além
de quem eu sou, de minhas atitudes e das verdadeiras intenções de meu
coração. Confesso que eu jamais esperaria que, passado tanto tempo,
chegasse aquele e-mail, com palavras tão cristãs: “Por ser essa vil
pecadora, peço-lhe humildemente perdão por tudo o que lhe fiz, por ter
deixado o mal exercer o domínio da minha vida, quando permiti que o
pecado entrasse em meu coração (…) A vida não para pra gente consertar
os erros, porque erros não se consertam, apenas os confessamos e
esperamos que pela misericórdia sejamos perdoados”. Admito que fiquei
muito comovido. Muito, muito, muito. Chorei uma manhã inteira. Pois,
embora o perdão seja um dos alicerces do Evangelho, poucos são os que
têm a grandeza de realmente superar seu orgulho e reconhecer os erros.
Mesmo que no passado aquela pessoa tenha apresentado para pessoas
importantes em minha vida uma imagem distorcida de mim e de meus atos,
no presente seu gesto tornou-a admirável aos meus olhos. E tenho certeza
que muito mais aos olhos de Deus.
Existe uma ideia de que admitir um erro e pedir perdão seria “se
rebaixar”. Mas é exatamente o contrário: é um gesto de bravura,
humildade bem-aventurada e que prova crescimento espiritual de um servo
de Deus. Quando li o email eu não perdoei tal pessoa – pois já a tinha
perdoado meses antes em meu coração e em oração. Mas a fiz saber que
estava perdoada e aproveitei para também lhe pedir perdão por todo mal
que porventura lhe tivesse feito. Quer saber? Foi um dos sentimentos
mais maravilhosos que tive em toda a minha vida. Pois, ao perdoar e
pedir perdão, o Reino de Deus se fez presente, o Evangelho genuíno se
manifestou e eu creio piamente que os anjos no Céu sorriram e
festejaram.
É certo e seguro, meu irmão,
minha irmã, que há alguém a quem você deve pedir perdão. Eu mesmo creio
que tenho no mínimo umas 50 pessoas de quem preciso lavar os pés.
Dificilmente existe um ser humano que não tenha de humilhar-se por algum
mal feito ao próximo, alguma injustiça cometida, algo que disse e
provocou feridas. O que é bom, entenda, pois a humilhação aos olhos de
Deus é totalmente diferente da humilhação aos olhos dos homens, não é um
ato de inferiorizar-se, é um ato sublime. Você pode ter julgado alguém
erradamente. Ou difamado essa pessoa. Pode ter tirado dela algo que não
lhe pertence. Pode ter magoado seu coração. Pode ter mentido. Pode ter
machucado fisicamente. Pode ter prejudicado financeiramente. Pode tê-la
passado para trás no trabalho. Pode ter sido injusto em alguma situação.
Pode ter feito fofoca sobre ela. Pode ter tomado seu cargo na igreja.
Pode ter agido contra ela por inveja ou interesses materiais. Pode ter
feito milhões e milhões de coisas que prejudicaram ou magoaram alguém.
A boa notícia é que pedir perdão está ao seu alcance.
Em sua carta aos colossenses
(3.13,14), Paulo descreve o caminho da grandeza: “Suportai-vos uns aos
outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa
contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai
vós”. O apóstolo não diz que conviver com pessoas pecadoras é fácil.
Conviver comigo, que sou um tremendo pecador, é muito difícil, eu sei.
Admiro quem me suporta. Mas quem o faz está cumprindo esse mandamento
divino. Temos de suportar-nos e não segregarmos. Esse é o primeiro
passo. Em seguida, vem o xeque-mate: temos de nos perdoar mutuamente.
Não somente ficar esperando que nos peçam perdão: devemos tomar a
iniciativa. Nesse sentido, essa pessoa que me pediu perdão foi muito
mais grandiosa do que eu, pois deu o primeiro passo, ainda mais sem
saber que já tinha sido perdoada e submetendo-se a possíveis reações
hostis que eu poderia ter.
E isso é algo que precisamos ter em mente: nunca esperar o outro vir
até nós, importa que façamos a nossa parte. Peça perdão sem esperar ser
perdoado ou sem esperar uma boa reação. Faça o que tem de fazer. Faça o
que é certo. Faça Jesus se orgulhar de você. Mas se alguém vier primeiro
até você e pedir perdão de coração contrito… perdoe. Não importa a
dimensão do mal cometido. Importa, isso sim, a dimensão da graça de
Deus. Você não faz ideia do bem que perdoar promove em nosso coração.
Pedir perdão, então, é algo libertador. Magnânimo. Engrandecedor. Não
perca uma oportunidade sequer de fazê-lo, é um dos maiores prazeres e
das maiores alegrias que um cristão pode sentir. É, literalmente,
divino.
Tudo isso caminha na contramão da nossa cultura. A sociedade prega
que devemos estar sempre por cima e manter nosso orgulho. Só que, para o
Senhor, é o contrário: “Os insensatos zombam da ideia de reparar o
pecado cometido, mas a boa vontade está entre os justos” (Provérbios
14.9). No Reino de Deus, o que te faz grande é se pôr por baixo.
Preferir os outros em honra. Humilhar-se para ser exaltado. Tomar na
cara sem revidar. Em tudo isso Deus agirá em favor de Seus filhos que
procederem conforme o padrão do Reino e não o deste mundo.
Quando tais falácias foram
ditas a meu respeito tempos atrás, eu poderia ter revidado, retaliado,
me defendido, posto a boca no trombone – ou seja, ter agido conforme a
raiva e o ódio do mundo. Mas já tinham me ensinado àquela altura que o
caminho da Cruz é o de não devolver mal com mal, fazer o bem a quem nos
faz mal, orar e abençoar quem nos persegue. E, o mais difícil de tudo:
não se defender. Mesmo que rangendo os dentes, suportar tudo calado. Não
ficar tentando desmentir exageros ditos a seu respeito e que não
condizem com a realidade. E por quê? Simplesmente porque foi o que Jesus
fez. É a atitude bíblica, como Paulo deixa claro em Romanos 12. Tenho
certeza de que a opção de suportar em silêncio, sem me defender ou dar o
troco, pesou no mundo espiritual para o bem de todos e, enfim, para
esse pedido de perdão. Que me permitiu levar a essa pessoa a paz de
saber que já estava perdoada e também lhe pedir perdão por qualquer mal
que lhe tenha feito. Em resumo: para fazer o Evangelho entrar em ação e
ter consequência.
Deus criou mecanismos perfeitos de funcionamento das coisas: quando
não revidamos Ele nos abençoa. Quando não devolvemos mal com mal Ele nos
abençoa. Quando aguentamos o vitupério em silêncio sem nos defendermos
Ele nos abençoa. Quando temos a grandeza de pedir perdão Ele nos
abençoa. Quando concedemos perdão Ele nos abençoa. O modo de ser e agir
do Reino é maravilhoso. É lindo. Nunca será defendido nos filmes de
Hollywood ou nas novelas da televisão, somente nas páginas das
Escrituras. As atitudes cristãs fazem as pessoas se aproximarem entre
si. Fazem as pessoas se aproximarem de Deus. Dá a elas a aparência de
Cristo. Se agirmos sempre como Jesus agiu estaremos pondo no rosto do
manso Cordeiro um largo sorriso.
Você fez mal a alguém, meu
irmão, minha irmã, mesmo que tenha sido sem querer ou num momento
impulsivo ou de raiva? Não perca tempo: peça perdão ainda hoje. Alguém
te feriu muito? Não perca tempo: perdoe-o antes mesmo que ele lhe peça
perdão. Disseram que você fez muito mais do que fez – ou mesmo o que não
fez? Ou mesmo acreditaram no que foi dito sem ao menos lhe perguntar se
tudo condiz com a realidade? Entregue nas mãos do Pai de amor, como o
Filho de amor fez. E, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, não
abra a boca. Entregue a situação para Deus e espere. É difícil? Pode
ser, mas é cristão.
O Natal está chegando. Esse pedido de perdão chegou em boa hora, pois
me lembrou enfaticamente do significado primordial dessa celebração
cristã. A vinda do Verbo para reconciliar, perdoar, unir, restaurar.
Domingo passado estive em um culto na Catedral Presbiteriana do Rio de
Janeiro e, ao som do belíssimo “Gloria” de Vivaldi, entoado por um
grande coral e um lindo órgão, chorei novamente, emocionado,
lembrando-me do real sentido do Natal. Ali agradeci a Deus por ter-se
dado por nós e nos ensinado a ser como Ele é. Perdoador. Manso. Humilde.
Amoroso. Contrito. Um embaixador da paz.
Gostaria de terminar com a letra desse hino de Vivaldi, que resume
bem a gratidão que sinto neste momento e o que todos devemos dizer ao
Senhor – palavras que o coral de anjos cantou ao anunciar o nascimento
de Jesus aos pastores no campo próximo a Belém (Lucas 2.14):
Gloria, gloria! Gloria,
gloria in excelsis Deo!
(Glória, glória! Glória, glória a Deus nas alturas!)
(Glória, glória! Glória, glória a Deus nas alturas!)
Peça perdão a quem precisa pedir. Hoje. Agora. Já. Não espere. Não
perca tempo. Não condicione isso a qualquer coisa: nunca diga “só
pedirei perdão se…”. Não! Passe a mão num telefone, escreva um email, vá
até a outra pessoa… e aja conforme o coração de Jesus. Não espere um
segundo mais. Eu te asseguro que isso te fará admirável aos olhos dos
homens. E, muito mais, de Deus.
(Fonte: BLOG
APENAS)